Criada pela Embratur há quase seis anos, a marca Brasil tem agora a
chance de amadurecer e promover o país no exterior. A Copa do Mundo de
2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, além do aquecimento da economia
brasileira e do potencial de desenvolvimento do Brasil como nação
sustentável, são fatores que contribuem para que o mundo todo olhe para o
país.
É necessário repensar a comunicação neste novo momento e olhar para
um futuro próximo. Cabe não só às empresas e ao Governo, mas também aos
brasileiros de uma forma geral promover a marca Brasil no cenário
mundial. Muito mais do que um pensamento individual, é preciso trabalhar
em conjunto para que todos ganhem com o destaque que a marca Brasil
pode representar.
Qual a importância de sediar eventos esportivos mundiais? Quais são
os valores do nosso país enquanto marca? Como repensar a estratégia de
promoção do Brasil no exterior? Estas são algumas reflexões que serão
abordadas durante o Congresso Internacional para Líderes da Comunicação
(CILIC), que será realizado pela primeira vez nos dias 9 e 10 de maio,
em São Paulo. Em entrevista ao Mundo do Marketing, Josafá Vilarouca,
Presidente do
CILIC, fala sobre os desafios e oportunidades deste novo cenário.
Mundo do Marketing: Qual é o principal objetivo do CILIC?
Josafá Vilarouca: O slogan que tem sido usado
continuamente na nossa comunicação é “Nossa maior marca se chama
Brasil”. Então, a partir desse conceito, precisamos sempre avaliar o
momento que passamos hoje no país e que relação esse momento tem com a
área de comunicação. Pela primeira vez no país, vamos discutir a marca
Brasil. Por isso reunimos gestores de comunicação, porque essa
responsabilidade acaba batendo diretamente em quem faz comunicação no
país.
Criamos um congresso de comunicação global para que pudéssemos dizer,
ou pelo menos refletir e discutir, a responsabilidade dos gestores de
comunicação com as suas marcas corporativas, porque essas marcas, como
se fossem um quebra-cabeça, acabam gerando uma imagem para o Brasil. São
154 lideranças que participam como painelistas para pensar na
sociedade, nas novas tecnologias, nas mídias sociais. Enfim, em assuntos
que são pertinentes ao nosso dia a dia e hoje assumem um caráter de
importância maior porque tudo gira em torno da comunicação.
Temos que lidar com essas questões e também considerar que o Brasil
mudou nos últimos 10 anos. Vamos discutir os 10 primeiros anos do século
XXI. Um momento em que nós, comunicadores, paramos e olhamos o Brasil
sob o ponto de vista econômico, político, social e turístico. Recebemos
eventos de alcance global como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Começamos a pensar se agora não é a grande oportunidade de deixarmos de
ser simplesmente um país de terceiro mundo e emergirmos no cenário
global, tendo uma voz cada vez mais forte no mundo.
Mundo do Marketing: Uma das propostas do Congresso é
realmente repensar esse momento da comunicação. O que seria olhar para
este futuro próximo?
Vilarouca: O primeiro passo é refletir. Antes de tomar
qualquer iniciativa, precisamos de reflexão. Esse Congresso,
principalmente porque é a primeira edição, tem este caráter. E a
comunicação tem de olhar as mudanças não só do seu país, da sua empresa,
do seu cenário e do seu mercado. Os profissionais têm que pensar na
comunicação olhando para o mundo e mensurar isso de forma reflexiva.
Estamos passando por um processo de internacionalização, começamos a
ver empresas nossas que começam a ir para fora. O Itaú, por exemplo, a
Sadia, a Camargo Corrêa, a Ambev, a Vale, a Petrobras. Diversas empresas
brasileiras em que os comunicadores são os guardiões das marcas. Como
levar uma Ambev para o mercado internacional, que leva junto a nossa
marca brasileira? Como levar uma Petrobras, que hoje é considerada uma
das 10 maiores empresas do mundo? Como falar, por exemplo, de Camargo
Corrêa e deixar de lado o empreendedorismo do próprio fundador da
empresa. Como falar de turismo sem citar aqui no Brasil a CVC, que refez
o turismo popular no Brasil? Esse profissional tem a função de
refletir, de mensurar e dar visibilidade aos resultados que geram para
suas marcas corporativas.
Mundo do Marketing: A marca Brasil foi criada em 2005...
Vilarouca: Isso é interessante. Quando escolhemos o
tema “Marca Brasil”, inicialmente não havia uma relação direta com a
marca criada pela Embratur. Era apenas uma temática. Aí fomos estudando e
chegamos à marca Brasil e fomos conhecer um pouco dela. Vimos que todo
país tem sua marca, como se fosse o branding. Percebemos que a marca
Brasil começou a criar força nos últimos anos. Essa marca foi criada
para ser um selo de identificação de um produto como produto brasileiro.
Hoje, conseguimos ver que a indústria internacional e as pessoas
começam a enxergar o nosso produto com qualidade e a identificação deste
produto com a marca Brasil significa uma nova roupagem. Só que como a
Embratur é um órgão do Governo voltado à promoção dos destinos
turísticos do nosso país, a marca Brasil acabou muito vinculada ao
turismo. E achamos que não deve ser apenas dessa forma, mas que a marca
deve representar todos os conceitos ligados a serviço, turismo,
produtos, enfim, todas as instâncias do nosso país. Então vamos quase
que relançar a marca no congresso.
Mundo do Marketing: A impressão que dá é que, desde o lançamento, a marca não “pegou”. Por que isso?
Vilarouca: O Brasil é um país de 511 anos, muito novo
em relação a outros países, principalmente do continente europeu. Se
pensarmos que só ganhamos uma marca em 2005, vamos perceber que tivemos
um tempo muito curto para a sua consolidação. Temos que considerar que
toda marca precisa de um tempo de maturação e os elementos que dão essa
maturidade estão relacionados aos impactos que a marca gera.
Quando falamos de um Brasil violento, só de samba, de futebol, de
prostituição infantil, é claro que isso gera um impacto. Mas quando
vemos o Brasil a partir de 2005, começamos a falar de um país que começa
a ver a sociedade de uma forma diferente e passamos a ter mais orgulho
de ser brasileiro. Antigamente, quando o brasileiro viajava para o
exterior, as pessoas recebiam com certo ar pejorativo e isso era muito
incômodo. Parecia que tinha algo muito ruim ligado à raiz, à
nacionalidade. Hoje, as pessoas recebem o brasileiro com muito mais
respeito. Não é mais com essa euforia de que é a terra do samba e do
Carnaval. Temos um PIB a defender, um país de grandes indústrias, que
tem a Floresta Amazônica, recursos naturais, um país em desenvolvimento e
com maturidade política. Temos tantas coisas legais para levar lá para
fora que, se antes éramos recebidos com água, agora somos recebidos com
vinho.
Em relação à marca Brasil, esse tempo de maturidade vai contar muito.
Estamos agora com Copa do Mundo e Olimpíadas, imagina o impacto que a
marca Brasil vai gerar? Todos estão olhando para o Brasil neste momento,
mesmo com todos os problemas que podemos ter de infraestrutura. Teremos
um impacto, não sei se positivo ou negativo. É papel do Governo
resolver essas questões junto com a sociedade e a iniciativa privada.
Todo mundo é responsável. Essa relação começa a ficar mais madura a
partir deste momento.
Mundo do Marketing: Quais são os principais desafios para amadurecer a marca?
Vilarouca: Eu diria mais uma vez que devemos nesse
momento parar para refletir, pensar quais são nossos erros e acertos.
Não podemos considerar que, por mais que tenhamos essa visibilidade,
estamos prontos para o mundo. Ainda temos muitas coisas a serem
resolvidas. Acho que bateremos sempre nos mesmos problemas. De educação,
porque quanto mais se investe em educação, mais se tem um país
desenvolvido. Questões ligadas a questões sociais, níveis de pobreza. É
inadimissível, por exemplo, fazer um congresso como esse e não discutir
assuntos ligados à infraestrutura de transportes.
Teremos lá o presidente da Alston Transport, que falará um pouco
sobre os últimos 10 anos. Eu não gostaria de ver o Philippe Mellier
dizendo que está tudo perfeito. Quero vê-lo falar que ainda existem
muitos desafios a serem superados. Não vamos conseguir resolver todos os
problemas, porque não existe como resolvê-los neste tempo (até a Copa
do Mundo). Mas precisamos começar a nos preparar para olhar os problemas
de uma forma diferente. O principal desafio é mudar a mentalidade do
brasileiro, que ainda é muito de terceiro mundo, e pensar num brasileiro
que começa a ser visto com orgulho e possibilidade de mudança.
Mundo do Marketing: A comunicação tem um papel muito
importante na promoção da marca Brasil. Mas não há uma falta de
planejamento neste sentido?
Vilarouca: Vejo a Embratur, que cuida hoje da marca
Brasil, como um órgão extremamente organizado. Planejamento tem que ser
sempre feito. Temos que pensar sempre em instâncias menores para levar
para uma macrovisão. É só nos perguntarmos: “Será que todo dia, quando
nos levantamos, nos planejamos?” Podemos até nos planejar, mas acontecem
outras coisas que podem nos fazer sair desse planejamento. O Brasil não
é mais o Brasil do “jeitinho brasileiro”, mas o Brasil da flexibilidade
para lidar com grandes desafios mundiais. É completamente diferente.
Saber lidar com situações muito complexas e mudar o seu planejamento ou
se planejar naquele momento para resolver a situação imediata. Essa é a
posição em relação às questões de planejamento.
Agora, como você disse, a comunicação tem um papel fundamental. Como
cidadão, nosso primeiro ato de comunicação é o voto. A comunicação vai
desde o que falamos no dia a dia, o que emitimos de opinião, passando
por instâncias menores, dentro da nossa casa, até instâncias
empresariais, de Governo e por aí passa para todo o país. A comunicação,
não só o gestor de comunicação, mas todo brasileiro que se comunica, é
responsável pela marca Brasil.
Mundo do Marketing: Sob que ângulos a marca Brasil pode ser trabalhada para promover o país no exterior?
Vilarouca: Primeiro, não podemos pensar de forma individual.
Não sou eu, empresa, que promoverei a marca Brasil. Vale uma mobilização
da sociedade, das instâncias públicas e privadas. É um movimento
coletivo de conscientização. Em nenhum momento eu paro para assistir à
televisão, seja em canal aberto ou fechado, e percebo uma visão neutra
sobre as questões de desenvolvimento do país. É sempre de um âmbito de
interesse particular.
Acredito que temos que pensar de forma global e é papel de todos
enxergar isso. Gostaria de ver o que as pessoas, as empresas e o Governo
estão fazendo juntos para o desenvolvimento do Brasil. Não é uma
iniciativa de Marketing isolada, é uma união de lideranças. Enquanto
pensarmos de forma individual, estaremos defendendo nosso interesse como
pessoa, como empresa. E temos que defender, não quero dizer que devemos
deixar de lado interesses pessoais, mas também temos que defender nossa
bandeira. Sair do Brasil a partir de agora reconhecendo todas as
dificuldades que temos como país, mas também que temos feito um bom
trabalho.